segunda-feira

Um dia após outro

Sempre teve convicção de que amor não se sabia assim, como mágica, pronto do dia para a noite, mas aquilo que se regava dia após dia. E que, passado um dia, ao se olhar o dia vencido anteriormente, perceber aos poucos crescendo e se espalhando ao redor como as ramificações de uma trepadeira, cerca viva que um dia os pudesse proteger dos assaltos e sobressaltos que a vida lhes podia pregar.
Tendo vencido os primeiros dias daquela revolução interna, que mais pareciam dias festivos de um ano novo e, enfrentando a certeza dentro de si de que nem sempre os dias seriam de flores, olhou para aqueles primeiros raminhos verdes grelando, começando a se entrelaçar e sentiu pela primeira vez, após longo tempo de estio, o conforto de se sentir enfim, de alguém e, igualmente, sem fragilidade, que alguém lhe pertencia. Não pela posse que isso pudesse denotar, mas pela certeza de porto seguro, onde pudesse ancorar seus desejos de um amor maduro. Ainda que não se soubesse totalmente madura. Nem ela, nem ele.
Não era o amor entre eles que era novo, embora renovado. Era a oportunidade não desperdiçada. A chance de olhar um para o outro uma segunda vez, e como num relance, um resgate, perceber nuances que só o olhar melhorado pelo tempo pode alcançar. E por fim, saber-se morada um do outro.
Aquela oportunidade revelada era a porta entreaberta. Havia tempos que se espreitavam  por entre frestas, aqui, ali, acolá. Sempre por meio de janelas que mais pareciam portais mágicos que se fechavam antes mesmo que pudessem atravessá-los. Ficavam pelo meio do caminho, sem a certeza de que se reconheceriam numa próxima aparição, sempre em mundos opostos.
A novidade daqueles dias de ano novo era a displicicência daquela porta entreaberta em que ousaram atravessar com a facilidade de quem já conhece o caminho... e talvez o conhecessem mesmo de outros tempos, mas que a partir dali era para o desconhecido e em frente que seguiriam juntos, nunca mais para trás.
Ela o olhou nos olhos com coragem e consentiu. Ele segurou sua mão. Juntos deram o primeiro passo... e o segundo... o terceiro. Ao redor deles agora, cresce e se espalha uma linda trepadeira onde florescem lindas flores, que eles podam e cuidam com afeto. Um dia após outro.

(jul.2011)

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